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Ágora moderna: cresce mobilização nas redes sociais

Na antiga Grécia, as ágoras – nome que batizava as praças públicas – eram ponto de encontro da população, palco de discussão e do exercício da democracia e cidadania. Professor do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da UFF, Dênis Morais chama a Internet de “ágora do terceiro milênio” em seu artigo “Comunicação Virtual e Cidadania: Movimentos Sociais e Politicos na Internet”. De fato, uma busca um pouco mais minuciosa revela um sem número de movimentos que se propagam virtualmente.

Para além das páginas dos sindicatos, associações de moradores e ONGs, a sociedade civil vem se expressando ( e se mobilizando) via Internet. Movimentos como “10% do PIB para a educação pública, já!” lançam conteúdo informativo e combativo.

A nível municipal, o MUDSPM (Movimento Unificado em Defesa do Serviço Público Municipal) prestou um inestimável serviço de informação durante o processo de votação do projeto 1005 que prevê a recapitalização do Fundo de Previdência do município. O site CPII em greve ajuda pais e alunos a acompanharem notícias sobre a paralisação que dura mais de um mês. Na página, há uma convocação para ato público amanhã (dia 30/09), às 14h, na Cinelândia.

A questão dos megaeventos e das remoções vinculadas às intervenções urbanísticas em virtude da preparação da cidade para a Copa de 2014 e Olimpíadas 2016, tem tribuna virtual intensa na Rede de Megaeventos. Para protestar ou postar artigos, videos ou simples comentários, é preciso se subscrever. Outra página que se mantém atualizada e ativa é a do Comitê Popular para Copa e Olimpíadas Rio. Aliás, vários estados têm suas páginas sucursais. Estreou recentemente a Olimpi(c)leaks que compila documentos referentes às violações de direitos humanos resultantes das remoções forçadas e ilegais e dos conflitos territoriais .

Esta semana circulou na Reme uma discussão sobre a nova página Meu Rio. Logo foi divulgado, na Reme, que é uma iniciativa dos economistas Andre Urani e Armínio Fraga. Mas o que predomina são movimentos democráticos, populares e páginas feitas com pouco orçamento e com disposição para lutar por transformações sociais.

Páginas de organizações que prestam apoio a movimentos, como Fase – espécie de centro de articulação de organizações não-governamentais do Brasil e do exterior vinculadas à defesa dos direitos humanos, do meio ambiente, da reforma agrária e da educação – e o PACS – Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul – têm importância vital na rede. O Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), organização da sociedade civil fundada há 30 anos, foi um dos pioneiros na Internet. Também fazem a diferença as mídias virtuais e independentes como o Fazendo Media, o Correio da Cidadania, Vi o Mundo e Global Voices. São espaços para notícias que não são estampadas na grande imprensa, com versões muitas vezes opostas.

“As lutas sociais de hoje em dia ganharam uma ferramenta poderosa com possibilidade de articulação através da Internet. Das revoltas no Egito às manifestações dos indignados na Espanha, passando pela manifestação contra a corrupção no Brasil, as multidões de ativistas pelo mundo todo estão usando as redes sociais, como Facebook e Twitter, para se organizarem. Importante apenas é ter clareza de que não basta ser o que se chama de ativista de sofá: um apoio que fica só no ato de clicar o mouse, mas que não vai para as ruas participar das manifestações. Do mesmo modo, também não se pode achar que a Internet por si só vá fazer a revolução. Mas, sem dúvida, vivemos um novo tempo para a militância política com a possibilidade de dar uma dimensão muito maior para as lutas através do uso inteligente das redes digitais de comunicação”, pondera Bia Martins, doutoranda da Escola de Comunicações e Artes da USP.

Fica o questionamento de outra pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, Catarina Tereza Farias de Oliveira, autora de “Os Movimentos Sociais na Rede – Usos e Estratégias Comunicativas”.

“Seria o ciberespaço realmente palco do exercício da democracia onde os cidadãos poderiam se expressar livremente ou manteria, como na Grécia antiga, a exclusão de alguns já que nem todos eram considerados cidadãos? Todos têm direito à esta cidadania digital? Existe uma ideologia movendo esta Ágora virtual?”.

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