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“Aqui que nós fica?”

Que banca de vestibular ou Enem aceitaria como resposta correta a concordância “nós pega o peixe?”. Causou no mínimo estranheza, entre profissionais de ensino e especialistas em educação, a introdução nas escolas, pelo MEC, do livro didático “Por uma vida melhor”, da coleção “Viver, Aprender” que aceita a fala popular como alternativa a norma culta. Como na frase citada acima ou em outro exemplo incluído na publicação: “os livro”.

Que existe uma linguagem popular, influenciada pelo nível sócio-econômico e pelo ambiente cultural e familiar, é inegável. Basta pensar na própria diferença entre o português falado em Portugal, no Brasil ou em outro país com o nosso idioma. São diferentes dialetos para cada lugar. Podemos dizer que cada cidade tem o seu. Cada grupo social, também.

No entanto, a escola é o lugar do saber, da norma culta, do ensino didático, que presume o aprendizado da técnica. O aluno pode usar gíria ou coloquialismo mas deve dominar sua língua. Deve estar equipado com conhecimento profundo e correto do português para lançar mão quando precisar, usando-o de forma adequada e conveniente.

Já existe um grande fosso educacional que separa alunos da rede pública de alunos da rede privada. Um desnível que diminui, ou pior, impossibilita, a mobilidade social uma vez que a educação pública vem perdendo qualidade a passos largos. Como será o desempenho de um aluno induzido a equívocos quando for testado no Enem, em vestibulares e concursos que exigem a norma culta?

Propalar o erro como norma é nivelar por baixo. A mim, parece que deixa implícita uma perversa aceitação da incapacidade de se aprender e da desistência em ensinar. O MEC está jogando a toalha?

Em 2010, somente 5,7% das escolas públicas de ensino fundamental alcançaram a nota 6,0 no Ideb – Índice de Desenvolvimento do Ensino básico que indica o nível da qualidade de ensino. Nossa rede estadual ficou com a 10ª pior nota do país (4,0). Prova que a educação pública está longe da excelência. O baixo investimento no setor – que não ultrapassa 3% do orçamento do governo – é apenas um dos fatores agravantes neste processo gradual de degradação.

Ao invés de trabalhar para elevar o nível, parece que o MEC quer relegar os estudantes públicos a uma categoria inferior. E ainda lava as mãos quando se exime da responsabilidade de filtrar o material didático que vai parar nas carteiras escolares das escolas.

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