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Sobre a demolição da Perimetral: “Sem Planejamento”

Artigo de Eliomar Coelho no jornal O Globo…04/11/2013
“E a realidade começa a bater na porta da prefeitura. Anos após o início do projeto Porto Maravilha, as tão bem sucedidas operações imobiliárias não passam de promessas e vem aí a demolição do elevado da Perimetral. Pouco a pouco, a falta de planejamento, o resultado de tantas medidas de exceção, as reais intenções da prefeitura, e de seus mecenas do mercado imobiliário, vão aflorando e ficando mais claras.

É nítido o descompromisso com o bem estar da população. O fechamento da via, inicialmente previsto para meados de outubro, é a síntese mais perfeita do que essa gestão vem fazendo. Primeiro, aprovam-se leis ao arrepio, muitas vezes, das normativas federais e da boa técnica do planejamento urbano. Depois, ignoram-se todas as promessas feitas e vai tudo mudando conforme o gosto do patrão.

Agora, na hora de entregar o “produto”, a realidade mostra que não é bem assim. Os locais para onde estão deslocando as linhas de ônibus não sofreram qualquer adaptação significativa para suportar um fluxo tão grande. Os modais ferroviários nem de longe serão capazes de comportar os enormes contingentes que se deslocam todos os dias das periferias para as áreas mais centrais da capital. As barcas? Bom, a Barcas S/A colocou mais uma barca para circular no horário de pico. No Binário, até os consultores da CDURP afirmaram que essa via não tem capacidade de suportar o enorme tráfego da região.

Obras inacabadas, sinalização totalmente ineficiente, enfim, o caos está próximo de se espalhar por toda a região metropolitana. Mas engana-se quem acha que isso é apenas um problema de mobilidade e que só vai afetar quem passa por ali. Os impactos dessa obra vão se alongar por vários anos. A dificuldade de deslocamento até o centro do Rio, para os trabalhadores que moram na Baixada, no leste metropolitano e na zona oeste, se reverterá em maiores embaraços para se manter nos seus empregos.

O desemprego estrutural, gerado por esse fenômeno, levará mais e mais empobrecimento para as áreas mais periféricas de nossa metrópole. É uma cadeia de impactos sistêmicos que jamais foi “simulada” pelos técnicos a serviço da Prefeitura. Nem os Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental, que são exigidos por lei em projetos desse porte, e teriam como averiguar parte desses processos, foram feitos.

É no mínimo estranha a postura do Ministério Público de apenas solicitar “novos estudos e avaliações”, quando seus próprios assistentes técnicos flagram tantos crimes de responsabilidade. Ora, esses estudos deveriam ter sido feitos há quatro anos atrás! Agora que não tem mais volta, é preciso arguir as responsabilidades técnicas e políticas pelo caos que será imposto à nossa população.

Pelo que temos visto, não se trata de uma mera demolição de um equipamento público. É a demolição da própria Res Publica que está em jogo.”

Leia também o artigo “É a mobilidade, cara”, do economista e escritor Marcos Poggi

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