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Entrevista: arquiteto Lucas Faullhaber, da UFF, faz radiografia das remoções no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro de Eduardo Paes já removeu cerca de 65 mil pessoas desde janeiro de 2009 – 12 casas a cada dia. O dado está na monografia do arquiteto Lucas Faullhaber, da UFF, que também inclui um mapa da realocação mostrando “o princípio da exclusão dos mais pobres para a valorização de uma parcela da cidade, reforçando o modelo centro-periferia.” O trabalho observa também a questão da mobilidade. Para o Faullhaber, “as BRT’s representam um tecnologia ultrapassada e estão associados a uma política de valorização do solo”.

1) Em seu trabalho, você afirma que o atual prefeito removeu mais pessoas na sua gestão que Pereira Passos ou Carlos Lacerda. Como chegou a estas conclusões?
Os dados dos governos anteriores vieram através de uma pesquisa bibliográfica. Sobre a atual gestão, os números foram coletados na própria secretaria de Habitação em abril de 2012, referindo-se desde janeiro de 2009. No entanto a própria prefeitura se manifestou em reportagem do jornal O DIA (24/05/2013) dizendo que não se tratam mais de 11 mil casas, já foram 19.200 famílias removidas, ou seja, em torno de 65.000 pessoas, um aumento vertiginoso neste último ano. São removidas em torno de 12 casas na cidade a cada dia.

2) Em números relativos, considerando-se o crescimento da população, ainda ocorrem mais remoções hoje do que no passado? Qual foi o contigente removido em dados numéricos nas três gestões citadas?
Em números relativos a quantidade é menor, no entanto o dado de que 1% da população carioca foi removida na atual gestão é bem relevante. O Rio no início do século tinha menos de 1 milhão de habitantes e foram removidas 20 mil pessoas por Pereira Passos. Já na época de Lacerda, a população era quase a metade da atual e foram removidas 31 mil pessoas.

3) Por que resolveu se dedicar a esta pesquisa?
Dentro do curso de Arquitetura e Urbanismo projetamos muitas vezes baseados naquele mundo ideal, sem a interferência daqueles interesses escusos que de fato produzem as cidades. Recorrentemente, também escutamos ao estudar as nossas cidades, que há uma falta de planejamento. A minha pesquisa tinha a ambição de mostrar que existe sim um forte planejamento, mas aquele ditado pelo capital, mostrar alguns atores e estratégias utilizadas neste processo de apropriação da cidade. Ao longo dos estudos a questão da habitação acabou me chamando mais atenção, sendo o direito à moradia um dos mais violados pelo próprio Estado.

4) Que outras verificações fez?
Além das questões das remoções é importante olhar sobre o projeto de “mobilidade urbana” que se propõe para a cidade. Como estes BRT’s que além de representarem uma tecnologia ultrapassada, também estão associados a uma política de valorização do solo, e como é o papel do legislativo nisso tudo produzindo leis que induzem ainda mais este processo.

5) Você organizou o mapa da realocação mostrando a migração das favelas removidas para a Zona Oeste. O mapa confirma um processo de acirramento da exclusão?
O mapa acima de tudo mostra o princípio da exclusão dos mais pobres para a valorização de uma parcela da cidade, reforçando o modelo centro-periferia. Remoções estas que acabaram rompendo brutalmente as relações sociais e econômicas das famílias de forma indiscriminada, na qual estes cidadãos sequer tiveram oportunidade de escolha.

6) Como arquiteto, como avalia a política urbana implementada pelo prefeito e as remoções realizadas em áreas vinculadas aos projetos dos megaeventos?
É importante colocar que esse não é um processo velado. Tem apoio da grande imprensa, principalmente quando se associa essas ocupações à violência, temas ambientais ou até às necessidades impostas pelos megaeventos.
Como planejamento urbano, esta reafirmação do modelo centro-periferia só tende a trazer ainda mais problemas para a dinâmica da cidade. Os reassentamentos são majoritariamente colocados em áreas sem infraestrutura, serviços básicos, e principalmente sem mercado de trabalho. Grande parcela destes cidadãos será obrigada a se deslocar enormes distâncias para trabalhar. Isso quando estes não forem ocupar novamente outra área, em função de condições desfavoráveis. Enquanto isso, áreas centrais que poderiam ser utilizadas prioritariamente para uma política de habitação de interesse social como a do Porto, foram loteadas para iniciativa privada multiplicar os seus lucros e ao mesmo tempo gerar um grande cenário para esta cidade que se pretende global.

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